Livre e Catalão
Quando a Thatcher morreu...
O Mar em Casablanca
Dúvidas liberais
2012
Feira do Livro
Quando os EUA dizem "para cima", todos dizemos "para baixo"
Afinal, qual é a vantagem para os E.U.A. em fingir que mataram uma pessoa que pode reaparecer a qualquer momento (se não morreu)? E se têm vantagens, então porque não usaram essa carta mais cedo? Ou será que, afinal, Obama é mais maquiavélico do que Bush?
Catalunha
Uma forma de melhorar as coisas
Dúvidas, dúvidas
O desemprego...
25 de Abril
Catalunha
Monarquia
Não é um sistema especialmente justo, mas por acaso deu origem a sociedades mais justas que as restantes. Mas, sem ironia, confesso que foi por acaso.
Movimento
A Bronquidão dos Pais
O que realmente atrasa a educação deste país não são os professores nem os alunos, mas a ausência de cultura em casa: o constante arrazoado contra a "teoria", contra "eles", contra os "livros", o defender do ideal do trabalho infantil, etc., etc., etc.
De resto, estamos cada vez melhor. Essa influência nefasta vai dissipando-se ao longo das gerações. Mas não deixa de ser muito portuguesinha.
Perguntas pertinentes
Mulheres bonitas num blogue retiram seriedade à coisa?
Devia aplicar uma quota de fotografias masculinas?
Para que serve um blogue?
Arte Corpórea
O interior da pele, pelos dedos, os fiapos de roupa, pelo chão, o sabor salgado nos lábios e o ardor de álcool nos olhos e o peso bruto até ao interior do ventre. Os sons e suores secretos, o movimento subterrâneo da carne e o aperto periogoso. O suor da pele, o emaranhado dos cabelos, o sujo dos movimentos, o suplicado dos olhos, o molhado dos músculos, a o ardor do peito, a violência das nádegas, o sabor da mulher, o calor intenso, os sons sem razão, os lábios entreabertos e os olhos semifechados,
a ferida por sarar, o vermelho do sangue, o apetite pela cor, o calor do que não se diz, do que se sente no alento final, na pulsão final, na pressão final,
a morte doce e o sabor triste do que acaba e é efémero e é da carne e é de nós e não se diz e não se explica. E dormir, e dormir, ardidos. Até amanhã, quando tudo recomeça.
O armar ao pingarelho, exemplo prático
Jorge Gabriel, na RTP1, há poucos minutos, dá um exemplo do armanço ao pingarelho português. Ironizou sobre o "corte do 7", esse estranho fenómeno totalmente incompreensível para muitas almas, em que nós, comuns mortais imersos na mais profunda ignorância da verdadeira e sagrada caligrafia, cortamos o 7.
Já muitas vezes ouvi o argumento: se nos teclados o sete não está cortado, porque o cortamos quando o manuscrevemos?
Ora, porque razão não haveríamos de o fazer, se todas as letras têm versões diferentes em versão tipográfica e manuscrita? A questão é apenas de garantir a diferenciação entre os vários símbolos e o corte do 7 garante a diferenciação em relação ao 1. Não se trata de qualquer regra, trata-se de bom senso e segurança contabilística, no mínimo.
Os armados ao pingarelho armam-se destas ultracorrecções fetichistas (outra delas é o "queria ou quer" dos cafés) para mostrarem que são superiores a todos os outros, que eles acham armados ao pingarelho e que no fundo fazem gestos de tão profunda ignorância e insensatez como cortar o 7 ou dizer "queria um copo de água".
O Exacto problema do País
O exacto problema do país são os juízos apressados e os convencimentos saloios de que falava Pacheco Pereira há uns tempos.
Liberdade
Sabes que todos temos a boca cheia de liberdade. Ouves dizer muitas vezes que a liberdade é um valor essencial e todos se acusam de querer tirar a liberdade uns aos outros. Até os grandes crápulas e tiranos da história disseram muitas vezes que defendiam a liberdade. Podes perguntar-te por que raio de razão é a liberdade tão importante. Não poderíamos todos lutar pela felicidade? Ou pelas conquilhas, já agora? Mas repara bem: com liberdade, podes decidir a tua felicidade. Sem liberdade, há outros que sabem bem melhor como te fazer feliz. A liberdade não é só um aspecto formal da vida. É a capacidade de te refazeres todos os dias e de te prenderes ao que queres, de perderes a tua liberdade pelo que te interessa e pelo realmente queres. A liberdade é o crédito com que nasces e gastas ao longo da vida. Que valha a pena. Luta por ela. Está sempre em perigo, porque para muitos, que têm muita liberdade na boca, o que interessa é a perfeição, é não verem a liberdade suja e incómoda dos outros à sua porta. A limpeza, a beleza, a felicidade. Esses são os deuses dessoutros que não querem a tua liberdade. Defende-te.
Lê bem: Abrupto; Origem das Espécies; Geração de 60
Sou Outra Coisa
Definitivamente, dizer-se que se é de direita ou de esquerda é simplesmente demasiado simplista.
Não sou de esquerda, embora defenda quase tudo o que a esquerda defenda que aumente o nosso grau de liberdade.
Não sou de direita, porque em muita direita não posso dizer coisas como "desejo intensamente estar com aquela determinada mulher a copular sem intuitos reprodutivos".
Sou libertário. Sou um liberal à antiga. Um liberal à americana, até, se quiserem. Sou anglo-saxónico, catalão, burguês, oitocentista, liberal-anti-absolutista-liberal, ou seja, quero poder dizer que me apetecia estar numa tenda no meio duma floresta a comer uma sueca e ser feliz assim.
Entre esquerda e direita sou assim: como Popper, acho que a sociedade deve diminuir o sofrimento (e aí até posso ser de esquerda) e não aumentar a felicidade: isso é com a liberdade de cada um.
P.S. Gostava ainda de dizer aos quatro ventos que pessoas que dizem que prejudicar a saúde não é um direito (como um leitor da Visão) não percebem nada de nada.
Iowa
Daniel Oliveira, no Expresso de há oito dias, diz:
Não deixa de ser assustador saber que o homem mais poderoso do mundo, que decidirá muito das nossas vidas nos próximos anos, começa a ser escolhido como se fosse presidente de uma filarmónica.
Os sistemas perfeitinhos podem ser apanágio da esquerda (como todas as racionalidades sociais que se impõem alegremente aos outros), mas em Iowa os candidatos à presidência têm de ir aos cafés e aos bailes de aldeia falar com os eleitores.
Quantos sistemas matematicamente proporcionais se podem gabar do mesmo?
Inconstância
Este blogue foi e é inconstante.
Por vezes, custa inventarmo-me todos os dias.
Mas aqui estou.
A Criação do Mundo
Nos blogues, nas blogosferas que por aí há, a criação é importante: criação de nós, do nosso nome, das nossas ideias. Como uma massa diferente do mundo do dia-a-dia, experimentamos, discutimos, vivemos em paralelo e de repente, como o mito, o mundo real deixa-se penetrar por esse outro mundo.
Mas neste mundo dos blogues, as coisas são sempre arrevesadas, vistas em diagonal, com outras vestes, outros sorrisos, outras certezas.
Por vezes, mais verdadeiras.
A Tentação
O que nos apetece sempre é ficar com as nossas certezas, nunca ouvir os outros, pensar que o que vivemos nos dá o direito de decidir quem está certo e errado definitivamente.
Afinal, o que os outros viveram só os engana e o que nós vivemos mostrou-nos o mundo como ele é.
Ou não?
Recomeço, sem certezas
Tive um ano sabático, poucos meses depois de começar o blogue. Lamento, mas a vida real é mais importante do que qualquer alter ego num blogue.
Vamos a ver se é desta que isto recomeça, sem certezas.
O que é preciso (III)
O catalão
Os editores, esses seres sem gosto
Por todas as razões, Bloomsbury Recalled é, há cerca de dez anos, um dos meus livros de cabeceira. Numa altura em que tanto se traduz (e mais de metade é lixo), por que será que os nossos editores ignoram sistematicamente certo tipo de obras? [Da Literatura: OS BLOOMSBERRIES]
Os nossos editores têm este problema: ignoram sempre os livros de que gostamos.
Barcelonas
Sou catalão, mas acima de tudo a liberdade
O ERC é cada vez mais o BE catalão (ou vice-versa).
A liberdade é bonita, mas não a dos outros, pelos vistos.
Mais descobertas
Principalmente indicado para quem gosta de reflectir sobre (algum) irracionalismo arrojiano.
Maravilhas da Blogoesfera
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/
http://arrastao.weblog.com.pt/
Comentar os outros II
Assim se prova que os políticos são como o povo: nem uns nem outros querem saber de política.
Comentar os outros
"Pessoalmente acho as autonomias uma pantomina: fazer flores com o dinheiro dos outros é fácil."
Claro que a verdadeira autonomia não é isto. A verdadeira autonomia é fazer flores com o nosso dinheiro. Em Espanha, por exemplo, Madrid faz flores com o dinheiro de algumas autonomias. Como são diferentes as coisas dos dois lados da raia.
Sejamos bons alunos europeus também nisto
A União Europeia
Quero que cada povo possa sentir-se como tal, quero que uma pessoa possa sentir-se como parte de vários povos ou de nenhum, que se sinta orgulhosa duma Europa, dum Estado e duma Região que funcionam e são neutras cultural e nacionalisticamente, sem isso significar que ignoram as culturas e as "nações", inventadas ou não.
No limite, os Estados dividir-se-iam por razões de gestão, as regiões idem e haveria tantas selecções nacionais quantos "sentimentos nacionais". A nação ficaria desterritorializada e o Estado desnacionalizado.
Claro que esta é uma utopia perigosa e por isso defendo apenas que os Estados se preocupem mais com os valores ocidentais e menos com os valores nacionais e que todos defendam as várias nações e sintam como suas as várias nacionalidades europeias.
Ou seja, defendo que não utilizar o Astérix por demasiado francês é não ser europeu, porque tudo o que é francês é europeu, tal como tudo o que não o é.
Interrogações metablogueiras
(Não que me importe, claro. O que me importa é ter um blogue bonito.)
Cânone dos blogues
.. Abrupto
.. Origem das Espécies
.. Blasfémias
.. Arrastão
.. Estado Civil
Em breve, talvez:
.. Geração de 60
Os meus desejos
- Uma certa mulher;
- A Catalunha independente ou uma Espanha diferente;
- Um rei em Portugal;
- Tempo para ler;
- ...
Sem limites
Claro que, para a maioria das pessoas, a curiosidade pára em tudo o que toca a religião. Limitam a sua própria liberdade, diminuem a qualidade da sua liberdade. Tanto pior.
Viver em Lisboa
O grande problema de Lisboa é haver tanta gente que lá trabalha e não vive na cidade, aumentado o trânsito, o vazio nocturno, a falta de iniciativa, as horas perdidas, o envelhecimento da cidade, etc., etc.
Pelos vistos, vai haver mais uma pessoa nessas condições a partir de 15 de Julho.
Quanto ao recenseamento, a obrigatoriedade de se estar recenseado na freguesia onde se reside é uma legalidade muito curiosa, ou não é verdade que Sócrates vota na Covilhã?
Cidades
Estarei perdido?
Qual a melhor forma de governo?
Compare-se Portugal e Espanha.
Compare-se a França e o Reino Unido.
Pense-se na Suécia, na Noruega, no Luxemburgo.
O que é preciso é um rei que modere e um primeiro-ministro que governe.
A única liberdade que ficaria diminuida seria a liberdade do próprio rei, que, de qualquer forma, poderia abdicar, se quisesse.
Discussões
É óbvio que todos achamos que um empresário que, em vez de reinvestir, desata a disparatar ("a comprar a mansão pra familia+pr'amante+pró gato e pró piriquito") não está a agir de forma muito correcta, digamos assim, está a estragar o seu próprio investimento. Se cometer alguma ilegalidade, todos concordamos que deve ser responsabilizado. Se a empresa for à falência, a culpa é dele. Mas será que o número de empresas que são assim são a maioria? Quanto aos trabalhadores, se não quiserem continuar numa empresa "matreira" destas, podem muito bem pegar em si e investir o seu trabalho noutro local, noutro projecto, noutra empresa. Dirá agora: "mas acha que é assim tão fácil?" Claro que não é! Mas devia ser? Fácil é ficar na mesma empresa, investindo tempo e trabalho num projecto falido à partida. Será que a solução é obrigar todas as empresas a seguirem regras que impeçam falências? Será que a solução é termos empresas artificiais, presas por arames, em que os direitos dos trabalhadores estão protegidos não por negociações livres, mas por legislação externa? Será que aos trabalhadores interessa este sistema? Não é melhor que a própria concorrência defina quais as empresas que devem sobreviver? Mais: os trabalhadores, com o seu trabalho, não se poderiam juntar para criar outra empresa mais justa? Outra coisa: investir, planear, trabalhar para arranjar os meios de produção também é parte da equação, ou será que o retorno do investimento (o tal lucro retirado a quem produz) é sempre injusto?
A nossa maior discordância não é de preocupação, mas sim teórica (teoria só é uma palavra feia em Portugal e por isso nunca conseguimos ver muito além do nosso nariz e, também por isso, somos pouco produtivos, menos quando geridos, no estrangeiro, por outros) e principalmente de perspectiva: a maioria das empresas portuguesas são pequenas e médias empresas, onde os "patrões" (o capital) trabalha tanto e a maioria das vezes mais do que os funcionários. Estas pequenas empresas criam emprego, criam riqueza, negoceiam de forma directa com os funcionários e estão afogadas em regras e regulamentações que as estrangulam, diminuindo a produtividade e a possibilidade de aumentar os ordenados. (Já agora: Será que um funcionário duma empresa em Espanha não ganhará mais também porque consegue ser mais produtivo (e não só por causa da lei da oferta e da procura, que se esqueceu de referir na referência ao El Corte Inglés)?)
O que é irónico é que, na realidade, até penso que o grande problema em Portugal é a má gestão e não o mau trabalho (ou antes, o problema é o mau trabalho dos gestores). Precisávamos realmente de melhores empresários e para isso precisamos de mais empresários: ou seja, precisamos de projectos, de capital, de trabalho empenhado, de concorrência, de melhores processos, de melhor legislação, de melhor aproveitamento do tempo e também de mais liberdade de escolha por parte dos trabalhadores e dos empregadores, mais fluidez, mais flexibilidade, mais riqueza (para todos). Há sítios e empresas onde o aumento da produtividade tem efeitos benéficos para todos: são as chamadas empresas que funcionam.
A Qualidade da Liberdade
Esta liberdade terrível inclui a liberdade de nos sujeitarmos a violências contra as quais podíamos muito bem lutar. Inclui a liberdade de não usar a liberdade. Inclui a liberdade de sermos irresponsáveis ou responsáveis.
Limitações à liberdade
Essa liberdade absoluta só é limitada por dois factores: a violência dos outros e as nossas próprias limitações. Se pensarmos bem, estas duas limitações, na realidade, são só uma: os limites das nossas capacidades (de nos defendermos, de sermos criativos com a liberdade, de concretizar os nossos desejos).
Ora, a função principal da sociedade enquanto tal é dar-nos a oportunidade de sermos ou não criativos com a nossa liberdade (ou seja, estar sossegada) e impedir a violência duns contra os outros (agarrar-me nos braços ou dar-me um tiro, no caso apresentado acima). Ou seja, maximizar a nossa liberdade, livre de violência.
A Qualidade da Liberdade
Agora, significa isto que aquilo que fazemos com a nossa liberdade é igual, seja o que for que façamos? Claro que não: a liberdade pode ser utilizada de forma melhor ou pior. Posso ter demasiados vícios, posso deixar-me influenciar por tudo o que me dizem, posso ficar fechado em casa, posso não querer saber nada, posso funcionar como uma peça numa máquina cega, posso acreditar em ideologias que limitam o mundo a um conjunto restrito de regras e explicações. Posso fazer isto tudo. Para mim, pessoalmente, isto significa um fraca qualidade da liberdade.
Ou seja, a liberdade é absoluta, mas pode ter mais ou menos qualidade, pode ser utilizada de formas distintas, com diferentes valores (nem tudo é igual). Podemos avaliar a liberdade dos outros, tentar influenciá-los a utilizá-la da forma que achamos mais indicada para eles (ou para nós). Somos livres de o fazer. Devemos fazê-lo, em certos casos. Podemos sempre não o fazer. (A ética, que existe e não é relativa, não limita em nada a nossa liberdade, a não ser que o queiramos - e eu, por mim, quero.)
No final, só cada um de nós pode avaliar de forma activa a qualidade da sua própria liberdade. Só cada indivíduo pode realmente julgar a forma como é livre e pode alterá-la. Só cada indivíduo sabe se quer ser (ou se sabe ser) responsável ou irresponsável, curioso ou castrado, influenciável ou bicho do mato.
Por mim, a liberdade deve ser sempre irreverente, curiosa, salgada, consciente do que existe e do que é bom, dos outros, das relações com os outros, das liberdades dos outros; deve ser uma liberdade aberta a tudo o que existe, a esse mundo que não pedimos mas que ainda assim nos
apareceu à frente. Em relação aos outros, sei o que penso do que fazem com a liberdade deles, mas não posso e não devo tentar violentar a liberdade deles, primeiro, porque são livres, segundo porque não há ninguém que me consiga provar sem sombra de dúvidas que a minha liberdade é melhor do que a deles (mas mesmo que fosse...).
Em relação às violências exercidas sobre a nossa liberdade, cada um decide o que fazer: sujeitar-se ou lutar, ignorar ou conhecer, ironizar ou servir de papagaio. No caso das liberdades que desejamos mas que estão para lá do nosso alcance, só nos resta escolher, livremente: lutar por mudar e alcançar ou conformarmo-nos. Por vezes, a melhor liberdade implica conformarmo-nos com alguns dos sonhos impossíveis, para podermos desfrutar da liberdade que temos e podemos utilizar. Mas tudo depende de cada um. Aí está o que é terrível, difícil, solitário na vida humana. Precisamente, humana.
Livro Branco
As coisas boas da vida
[Uma pequena pergunta economicista (ui!): se uma pessoa não produz o suficiente para se poder sustentar dignamente, porque haverá de ter de ser o Estado ou a empresa onde trabalha a fazê-lo?]
O que é que eu vejo em muitas pessoas da minha geração (20-30 anos) é a noção que tudo isto, estas coisas boas que todos queremos, é um direito natural que alguém é obrigado a fornecer-lhes. Quando uma pessoa sai do trabalho dura da faculdade, ou tem já o emprego de sonho, com poucas horas de trabalho por dia, sem grandes chatices, com um bom ordenado, ou o mundo está perdido.
Quando se chega aos 30 anos e não se tem o emprego com que sempre se sonhou, então começa-se a acusar tudo e todos por não se ter o país que queremos. Ou então, para alguns sortudos, o emprego de sonho já deixou de ser de sonho, porque dá trabalho, porque há problemas. Trabalhar muito, aprender a ser produtivo, ser organizado, esforçar-se para construir alguma coisa, empreender, criar, gostar de "fazer coisas", ter imaginação: tudo isso é coisa "careta", não serve. Só as coisas boas a que temos direito é que contam.
Ninguém gosta do caminho para se chegar às coisas boas (é normal que não se goste da parte do trabalho duro, mas é preciso): mas daí a advogar que não é preciso esse caminho, que temos direito a ter o caminho almofadado, vai uma grande distância.
No fim, quando se lutou, tudo sabe melhor. Ou não?
Infelizmente, a resposta a este tipo de argumentos é: "mas já se trabalha demais, já não há tempo para nada". Trabalha-se muito, porque se trabalha mal. Esse é o problema. Se não se produzir para poder criar a riqueza a que corresponde o ordenado, o mesmo é irreal, é um subsídio que outros pagam para que possamos viver bem (até que o subsídio acaba, porque o outro está esfalfado a descansar). Por isso, temos de trabalhar mais até aprendermos a trabalhar melhor.
Claro que isto está muito longe da discussão do domingo: não me choca nada que o domingo seja de descanso obrigatório. Deve sê-lo. Mas se a maioria das pessoas, nesse descanso, querem ir às compras (porque não o podem fazer noutra altura) - e tal como há profissões com descansos alternados -, os hipermercados podiam adaptar-se a essa necessidade e melhorar a vida a todos: aos compradores, aos trabalhadores (que ganham mais para compensar o trabalho de fim-de-semana, como é justo), às empresas (que não são os inimigos dos trabalhadores, ao contrário do que se pensa).
Dirão alguns: "mas onde está a qualidade de vida dum domingo passado no centro comercial?". Concordo inteiramente. Não gosto de ir ao centro comercial ao domingo. Mas não sou eu que decido o que é a qualidade de vida dos outros.
Divulgar, querer saber, expandir
É por não haver mais penetração entre campos, mais bons divulgadores, mais interesse genuíno por o que fazem os outros, que cada um dos portugueses acha a sua actividade indispensável e as actividades dos outros sempre muito inúteis. Também por isso, a maioria de nós acaba por ser muito limitada nos interesses e nos conhecimentos para lá da sua área muito particular de trabalho e/ou investigação.
Comunicar implica saber divulgar o que para nós deve ser aprofundado e investigado mas para os outros deve ser apenas conhecido e compreendido. Senão, ficamos todos em circuito fechado, a saber muito sobre pouco e nada sobre tudo.
Geração de 60
O que serve para apontar (o que neste caso não é feio) para um blogue estrondoso, onde, para ser óptimo, bastaria estar Jorge Buesco (que com o Mistério... me fez descobrir a ciência à la Popper) e Pedro Norton (quem vai tentando remar liberalmente contra a corrente), mas onde, felizmente, estão muitos mais.
Coisas parvas que as pessoas dizem
Típico da mentalidade "urbanística" portuguesa: todos andamos ainda convencidos que quanto mais espalhada estiver uma cidade, melhor (errado: quanto mais concentrada, menos trânsito é necessário, mais massa crítica para cultura, empresas, etc. existe, menos subúrbios são necessário), que quanto menos prédios em altura pior (errado: depois admiram-se da necessidade de fazer prédios em altura nos subúrbios, onde, realmente, se vive muito melhor...), que quanto menos gente na cidade e mais espaços vazios melhor (errado: conjugar tudo e criar uma rede verdadeira de habitação, emprego, cultura, etc. é que deve ser feito, como foi feito, neste caso).
A mentalidade "urbanística" portuguesa, quando lhe prometeram uma "cidade imaginada", imaginou: então tem de ser uma cidade com muito poucos prédios e muitos espaços verdes, uma espécie de planície arborizada com uns tantos montes aqui e ali. Deram-lhe uma cidade relativamente bem pensada, com muitos prédios (com habitação e empresas e serviços e comércio para evitar a suburbanização da coisa) e muitos espaços verdes (basta visitar com olhos de ver, não olhar de longe para os prédios). Há poucos (ou nenhuns) bairros de Lisboa com mais arborização (já passaram pela Alameda dos Oceanos na Zona Norte do Parque, junto à antiga "Vila Expo"?) e mais bem planeados. E nenhum tem um Parque Tejo, considerado o melhor parque da cidade.
Mas claro que é sempre mais giro, mais "lúcido", mais "inconveniente" dizer que a Expo se desvirtuou, que há prédios a mais, que foi tudo mal pensado, etc., etc. O que se faz bem nunca é bem visto porque não fica bem.
Coisas parvas que as pessoas dizem
Diz-se isto, claro, porque se avalia apenas a comida para turistas, a comida da esquina ou até porque não se consegue vislumbrar mais nada do que a comida da mãe (o que em si é bom, mas é um critério gastronómico muito limitador).
Assim, alegremente, os portugueses vão dizendo esta alarvidade, como se isso fosse patriota.
Sobre o catalão
Neste momento, das línguas minoritárias, é que a mais expansão tem.
Só é pena precisar tanto do "Estado" (=Generalitat) para isto.
Quero acreditar que...
Mas quer acreditar porquê? Qual é a influência que a vida privada dos outros, dentro de lençóis ainda por cima, tem na sua própria vida. Acho muito bem que pratique ou não pratique ou tenha nojo do que quiser. Mas querer separar o mundo entre "os que fazem" (ignorantes imundos que não sabem que se estão a matar) e "os que não fazem" (esclarecidos) é muito limitador...
É óbvio que todos sabemos os perigos (e se não sabemos, devíamos saber). Mas também todos sabemos os perigos de, sei lá, nadar no mar (ou devíamos saber). Será que quem nada no mar é perverso? (Claro que, pessoalmente, pode achar perverso o que quiser. Eu, por exemplo, acho perverso querer limitar a vida com medo de se sujar.)
Para quem não sabe os perigos do sexo anal, aqui está: http://en.wikipedia.org/wiki/Anal_sex
Para quem não sabe os perigos de nadar no mar, aqui está: http://www.health24.com/Man/General/748-771,30470.asp
Coisas parvas que as pessoas dizem
Aqui está um bom post sobre "coisas parvas que as pessoas dizem". A história de os fumadores passivos serem mais prejudicados do que os activos está na mesma onda do "o universo é infinito" ou "só utilizamos 10% do cérebro". Estupidezes que tantas vezes repetidas passam por verdades.
Enfim, mas o que esperar quando a maioria das pessoas (incluindo "cientistas") pensa que a ciência serve para provar coisas, como se Popper nunca tivesse existido?
O regresso
Já agora, o livro branco
Estou só a perguntar. A sério.
Liberdade de errar
Mas por favor, saibam o seguinte: entre frases, usa-se espaço.
Obrigado.
Tradições
A minha liberdade é sempre melhor do que a tua
Declaração de interesses: vou casar-me; sinto-me cada vez mais livre.
Adenda:
"Resta-me explicar com três teorias alternativas: ou servia uma qualquer (desde que reunisse um conjunto mínimo de qualidades, suponho), ou o homem é mais afortunado que o tipo que ganhou a lotaria duas vezes seguidas, ou afinal existe o destino."
Que raio de lógica é esta? Havemos de aqui voltar.
Liberalizar sem Dramatizar
Só para falarmos dum exemplozinho: para a maioria dos trabalhadores, certas protecções são bem dispensáveis: quantos trabalhadores de hipermercados não gostariam de poder receber a dobrar, ao domingo (por exemplo)?