Discussões

Este tipo de argumentação exaltada, embora sincera e bem-intencionada, é bem típica das discussões portuguesas: acusa-se o outro de ignorância ("será que o Andreu já leu qualquer coisinha acerca de economia"?), de falta de experiência do mundo ("coitado!, é jovem...não pensa!?"), etc.

É óbvio que todos achamos que um empresário que, em vez de reinvestir, desata a disparatar ("a comprar a mansão pra familia+pr'amante+pró gato e pró piriquito") não está a agir de forma muito correcta, digamos assim, está a estragar o seu próprio investimento. Se cometer alguma ilegalidade, todos concordamos que deve ser responsabilizado. Se a empresa for à falência, a culpa é dele. Mas será que o número de empresas que são assim são a maioria? Quanto aos trabalhadores, se não quiserem continuar numa empresa "matreira" destas, podem muito bem pegar em si e investir o seu trabalho noutro local, noutro projecto, noutra empresa. Dirá agora: "mas acha que é assim tão fácil?" Claro que não é! Mas devia ser? Fácil é ficar na mesma empresa, investindo tempo e trabalho num projecto falido à partida. Será que a solução é obrigar todas as empresas a seguirem regras que impeçam falências? Será que a solução é termos empresas artificiais, presas por arames, em que os direitos dos trabalhadores estão protegidos não por negociações livres, mas por legislação externa? Será que aos trabalhadores interessa este sistema? Não é melhor que a própria concorrência defina quais as empresas que devem sobreviver? Mais: os trabalhadores, com o seu trabalho, não se poderiam juntar para criar outra empresa mais justa? Outra coisa: investir, planear, trabalhar para arranjar os meios de produção também é parte da equação, ou será que o retorno do investimento (o tal lucro retirado a quem produz) é sempre injusto?

A nossa maior discordância não é de preocupação, mas sim teórica (teoria só é uma palavra feia em Portugal e por isso nunca conseguimos ver muito além do nosso nariz e, também por isso, somos pouco produtivos, menos quando geridos, no estrangeiro, por outros) e principalmente de perspectiva: a maioria das empresas portuguesas são pequenas e médias empresas, onde os "patrões" (o capital) trabalha tanto e a maioria das vezes mais do que os funcionários. Estas pequenas empresas criam emprego, criam riqueza, negoceiam de forma directa com os funcionários e estão afogadas em regras e regulamentações que as estrangulam, diminuindo a produtividade e a possibilidade de aumentar os ordenados. (Já agora: Será que um funcionário duma empresa em Espanha não ganhará mais também porque consegue ser mais produtivo (e não só por causa da lei da oferta e da procura, que se esqueceu de referir na referência ao El Corte Inglés)?)

O que é irónico é que, na realidade, até penso que o grande problema em Portugal é a má gestão e não o mau trabalho (ou antes, o problema é o mau trabalho dos gestores). Precisávamos realmente de melhores empresários e para isso precisamos de mais empresários: ou seja, precisamos de projectos, de capital, de trabalho empenhado, de concorrência, de melhores processos, de melhor legislação, de melhor aproveitamento do tempo e também de mais liberdade de escolha por parte dos trabalhadores e dos empregadores, mais fluidez, mais flexibilidade, mais riqueza (para todos). Há sítios e empresas onde o aumento da produtividade tem efeitos benéficos para todos: são as chamadas empresas que funcionam.

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