Divulgar, querer saber, expandir

Já agora, que falámos de Jorge Buesco, apetece-me invectivar contra o snobismo anti-divulgação científica ou anti-divulgação seja do que for. Algumas almas, sempre conscientes do perigo da superficialidade ou antes presos ao vício da especialização, acham que mais do que divulgar, devemos investigar. Ora, investigadores há imensos e bons (ou menos bons) mas bons divulgadores, nem por isso. E qual é a importância da divulgação? Ora: qual é o interesse dum campo de investigação (ainda por cima se for teórico) se não poder ser divulgado para poder fecundar os outros campos, para poder despertar curiosidade nos outros, se não poder ser compreendido (a um nível básico que permita chegar a conclusões e separar o trigo do joio) pelo menos por quem queira compreender genuinamente e com algum esforço alguma coisa?

É por não haver mais penetração entre campos, mais bons divulgadores, mais interesse genuíno por o que fazem os outros, que cada um dos portugueses acha a sua actividade indispensável e as actividades dos outros sempre muito inúteis. Também por isso, a maioria de nós acaba por ser muito limitada nos interesses e nos conhecimentos para lá da sua área muito particular de trabalho e/ou investigação.

Comunicar implica saber divulgar o que para nós deve ser aprofundado e investigado mas para os outros deve ser apenas conhecido e compreendido. Senão, ficamos todos em circuito fechado, a saber muito sobre pouco e nada sobre tudo.

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